Especial: José Wilker


Estava pronto pra escrever sobre o último capítulo morno de Joia Rara, quando me deparo com uma notícia triste para a teledramaturgia, a morte de José Wilker. O ator, natural de Juazeiro do Norte, teve papel ímpar nas histórias da telenovela brasileira, deu vida, não só a grandes protagonistas, como também a personagens coadjuvantes que roubaram a cena. Vamos relembrar um pouco da carreira desse grande ator, que merece todos nossos aplausos. Apesar de seu grande destaque no cinema, vamos focar no assunto principal do blog, as telenovelas. 

Zé Wilker estreou na teledramaturgia, na trama de Dias Gomes, Bandeira 2, exibida pela Rede Globo. Ele deu vida ao introspectivo Zelito, filho do protagonista da trama, o trambiqueiro Tucão (Paulo Gracindo). Em sua segunda novela na emissora, O Bofe, já deu vida ao mau caráter Bandeira, um hippie que enganava os ricos da cidade fazendo se passar por um design de interiores. Depois de Cavalo de Aço, ele deu vida a um homem frio, modesto e distante na trama de Jorge Andrade, Os Ossos do Barão. Em um dos sucessos de Lauro César Muniz, Corrida do Ouro, Zé Wilker viveu o jovem otimista e idealista Fábio.
Em 1975, o ator assume então um dos papeis de destaque da trama adaptada por Walter George Durst, baseada num sucesso da literatura nacional, Gabriela. Ele deu vida ao revolucionário Mundinho Falcão, um exportador de cacau e herdeiro de uma rica família paulistana que chega em Ilhéus pra fazer frente ao Coronel Ramiro Bastos (Paulo Gracindo). Para piorar a situação, Mundinho acaba se apaixonando por Gerusa (Nívea Maria), neta do coronel. O casal foi um dos maiores destaques da trama, e Zé Wilker voltaria a compor a segunda versão da história de Gabriela.
No ano seguinte, foi novamente protagonista, agora de uma trama moderna e urbana, a bem sucedida Anjo Mau, sucesso de Cassiano Gabus Mendes. A novela ganhou uma nova versão, em 1997, escrita por Maria Adelaide Amaral, que teve grande repercussão, bem como a original. Na primeira versão, Zé deu vida ao passivo Rodrigo, um dos herdeiros da família Medeiros, por quem bate o coração da babá Nice (Suzana Vieira). Ao final da trama, a babá, que fez de tudo para conquistar o patrão morre, diferentemente da segunda versão que ela tem um final feliz. Segundo autores e especialistas, o mal da primeira se deu pelo fato de que em 1976 não era bem visto o envolvimento de patrão e empregada. Brasil being Brasil desde os primórdios! 
Em 1980, ele vive outro sucesso de Cassiano que viria a ganhar também um remake em 2010. A novela Ti Ti Ti, apresentou um mix de duas tramas, a homônima e Plumas e Paetês, que contou com a participação de Zé Wilker. A história de Plumas e Paetês fazia parte do núcleo de Marcela, Renato e Edgar. Só que na primeira versão Osmar (Stepan Necersian) não era homossexual, e viajava com a namorada pra São Paulo quando se deu o acidente. Roseli (Elisabeth Savala), a amiga, assume a identidade da namorada falecida e acaba se envolvendo com o irmão de Osmar, Edgar (Cláudio Marzo). Tudo seria perfeito, não fosse o surgimento do ex namorado de Roseli, Renato, vivido pelo então José Wilker. Nos anos seguintes, ele participou de sucessos como Brilhante, Final Feliz, Paraíso, a minissérie Bandidos da Falange, e por fim Transas e Caretas, onde dá vida ao moderno Thiago, que tinha até um robô em sua casa.
Em 1985, ele viria a viver aquele que seria talvez uma dos seus personagens mais inesquecíveis. Aquele que deu nome à trama, nosso amado Roque Santeiro. Ele retorna à cidade quando todos achavam que ele tinha morrido e se tornado um santo. Uma falsa viúva, uma ameaça pra Igreja e pros poderosos da cidade e todos em polvorosa com a notícia. Roque Santeiro leva o título de maior audiência da TV brasileira e considerada até hoje um dos maiores, senão o maior, sucesso de nossa teledramaturgia.
Depois desse sucesso, o ator vai pra concorrente Manchete, onde faz duas novelas, Carmem, de Glória Perez e Corpo Santo. Em 1989, volta à Globo na trama de Lauro César Muniz, O Salvador da Pátria, onde vive o comandante de aviação comercial  João Matos, o irmão de Juca Pirama (Luis Gustavo). Em seguida fez a novela Mico Preto, e as minisséries Anos Rebeldes e Agosto. Volta a se destacar como o prefeito boa pinta de Fera Ferida, Demóstenes; o ambicioso Berlarmino de Renascer e o inescrupuloso Marcelo de A Próxima Vítima, atualmente em exibição pelo Canal Viva.
Anjo de Mim, O Fim do Mundo, Salsa e Merengue e o protagonista da questionável Suave Veneno, onde ele era passado pra trás pelas próprias filhas. Viveu Dom Diego na história A Muralha e o arqui inimigo de Tarcísio Meira, Tarso, em Um Anjo Caiu do Céu. Deu ar à sua veia cômica com o homossexual caricato Ariel, da mal sucedida Desejos de Mulher. 
Em 2004 voltou ao apogeu com o personagem Giovanni Improtta, de Senhora do Destino. O personagem marcou a carreira do ator, bem como fez parte de um dos maiores sucessos da teledramaturgia contemporânea. Seu estilo de falar, de vestir, de agir, sem medo do que pensavam dela, enfim, todos os ingredientes pra torná-lo eterno e ganhar até um filme contando sua saga. Outro personagem relevante foi o presidente Juscelino Kubitschek, na minissérie JK, escrita por Maria Adelaide Amaral. Também protagonizou a minissérie de Glória Perez, Amazônia, de Gálvez a Chico Mendes, onde viveu Luiz Gálvez. Voltou em Duas Caras, como o intelectual Macieira, em Três Irmãs como o fantasma Augusto e em Cinquentinha como o milionário falecido Daniel, que deixa quatro mulheres em guerra pela sua fortuna. Desde então só fez participações em seriados, voltando à telinha com o remake de Gabriela, escrito por Walcyr Carrasco. O personagem voltou a cativar milhares de brasileiros, mesmo sendo um vilão. Sem papas na língua eternizou bordões como "Se deite que eu quero lhe usar" quando se dirigia à sua esposa. Seu último trabalho na TV foi personagem sempre questionável Herbert, que surgiu nos quarenta e cinco minutos do segundo tempo de Amor à Vida


Mais do que um mero ator, José Wilker foi "o ator", dando seu tom particular aos seus personagens, sabendo a maneira como manuseá-los e torná-los eternos no coração de todos os brasileiros.