A regra de João Emanuel Carneiro ou A queda das nove.



Voltei, como todo filho pródigo, e claro, pra falar sobre a atual novela das nove que é motivo de tanto amor e ódio, que já causou furor nas redes sociais e mais ainda entre os críticos de TV. Tida como a aposta do horário pela emissora carioca, a novela vem amargando péssimos números, inclusive ficando atrás da bíblica Os Dez Mandamentos, da Rede Record. Eu resolvi então usar todo meu conhecimento no assunto de noveleiro assíduo (risos) para palpitar sobre o mal que a Globo enfrente há anos, a queda das nove.
Em 2012, JEC (João Emanuel Carneiro, como é conhecido nas redes sociais) entregou o horário com números não tão relevantes, se comparados com os de novelas antigas, mas com um fenômeno de repercussão: Avenida Brasil. E o horário nunca mais foi o mesmo. Se tornou chata a maneira como os fãs da trama de Nina e Carminha viam as outras produções globais, os telespectadores não foram mais os mesmos.
A sucessora da versão tupiniquim de Revenge sofreu com tamanha polêmica, o que até então era permitido (falar português em um país exótico, por exemplo) começou a ser alvo de críticas e tudo que Glória Perez criou em Salve Jorge foi motivo de chacota. A saga de Morena não agradou, apesar da proposta ser boa. O tráfico humano foi bem abordado em certos momentos, mas a busca eterna pela audiência fez a autora deslizar em certos momentos. Tudo se tornou grotesco, mas ainda assim os números não preocupavam a Vênus Platinada.
Amor à Vida  veio com uma trama bem folhetinesca, mas que de cara chamou a atenção do público. Um vilão homossexual, cruel, uma mocinha passiva e algumas boas histórias rondando a trama principal. Todos os ingredientes para fazer da primeira novela de Walcyr Carrasco no horário ser o auge na carreira do autor. Porém, aos poucos, ele foi perdendo a mão e o vilão virou mocinho, teve o carisma do público e surgiu uma vilã repentina que criou sentimentos ambíguos nos telespectadores e teve um final digno de novela mexicana. Amor à Vida teve certo êxito nos números de audiência, mas ainda assim não conseguiu apagar a bendita Avenida Brasil do coração do público. 

Fonte: SIC

Eis que no verão de 2014 começa uma queda levemente brusca com a estreia da tão famigerada última novela de Manoel Carlos: Em Família. Se Passione não inovou em nada, Em Família apostou mais ainda nas novelas antigas e trouxe uma história que seguia o ritmo da vida. Sem grandes aventuras, sem tramas policiais agitadas, a história de Maneco passou batida e virou piadinha com relação à idade dos personagens. A audiência? Essa foi lá pra baixo. Mas ainda não causou preocupação na Globo, porque na mesma época, a Record teve também sua pior estreia desde a era RecNove, com a trama Vitória.
Aguinaldo Silva então chegou, prometendo mundos e fundos, e de certa forma ele conseguiu agradar mais do que os antecessores. A saga do Comendador fez de Império uma novela para se ver com outro olhar. Aguinaldo trazia, na minha opinião, uma mancha negra no currículo, a novela Fina Estampa. Com pouca criatividade para um ator tão talentoso, a história de Griselda agradou muito (principalmente no que tange aos números de audiência) e criou até um filme, sobre o mordomo mais amado do Brasil, Crô. Porém, eu acredito que tenha sido o maior fracasso de Aguinaldo Silva. Com pouca história, personagens fracos e atores com os quais os diretores tiveram pouco cuidado, a novela, pra mim, escorregou. Com Império, Aguinaldo deu a volta por cima e criou personagens que merecem serem lembrados, além de um elenco afiado e uma trilha sonora perfeita. Ainda assim, o horário não trazia mais os louros do sucesso.
Porém, creio que a Globo deveria ter feito uso de um hábito do SBT e segurado Império por mais uns cinco anos, haja vista que o que estava por vir pela frente era muito mais trágico: Babilônia. Gilberto Braga e Ricardo Linhares já haviam mostrado que eram muito bons juntos (Paraíso Tropical e Insensato Coração). Mas algo atrapalhou a mão e o bolo de boas histórias murchou sem nem sair do forno. A mocinha prostituta não vingou, a vilã ninfomaníaca se apaixonou, o casal homossexual se tornou uma dupla de amigas, o gay desvirou gay e o fracasso foi fulminante. Babilônia se perdeu no meio do caminho e o estrago já estava feito, a audiência era considerada a mais baixa do horário, de todos os tempos.
Chegamos então aos dias de hoje com A Regra do Jogo, que recebeu o horário machucado, ferido, deteriorado. Além disso, a Globo chegou com uma estreia no momento de auge da novela da concorrente. As pragas do Egito foram apresentadas juntamente com os personagens ambíguos de João Emanuel Carneiro. Bom, mas vamos voltar mais no tempo e lembrar que o mesmo autor global já enfrentou problema parecido, nos idos de 2008. A Favorita versus Os Mutantes. A Record arrumou a cama e deixou tudo preparado, quando a Globo lançou o teaser (que eu considero um dos melhores), a emissora do bispo deitou e divulgou a continuação de Caminhos do Coração no mesmo horário da estreia de A Favorita. A audiência da novela global não foi tão baixa, mas sentiu o peso de ter uma concorrente. O autor soube dar a volta por cima e trouxe, antes do esperado, a revelação de quem era a grande vilã da trama. Dali pra frente, só sucesso.

Fonte: Mazeblog

Em suma, A Regra do Jogo enfrenta uma queda arrastada de audiência, chegou num momento errado (diante do auge de Os Dez Mandamentos), mas ainda assim acho possível ela evoluir para um grande sucesso. Nada que se compare com Avenida Brasil, na qual tudo se encaixou perfeitamente, mas creio que entre para a lista de sucessos do autor, lembrando que ele responde pelas maiores audiências do horário das sete (Da Cor do Pecado e Cobras e Lagartos) e teve enormes sucessos às nove. Falta tempo, falta paciência do público, mas não falta qualidade. A história faz jus aos seriados americanos, é frenética, tem uma boa trama, só peca por alguns núcleos que destoam e que acabando sendo meio chatos e fracos. Mas isso já é comum nas obras do autor, vide núcleo Cadinho, que chegava a ser estúpido muitas vezes, mas em nenhum momento atrapalhou a trama principal.