Nunca fui santa: as Helenas.


Para começar o "Especial Manoel Carlos", vamos direto no âmago do autor: suas protagonistas, suas Helenas. Ele nunca escondeu que suas mocinhas não eram tão santas assim, mentiam, corriam atrás de seus amores, mesmo que tivessem de enfrentar um mundo inteiro pra isso. Quem acompanhou a estreia de Em Família ontem, pôde perceber que o autor veio com uma Helena mais ousada que as anteriores, dúbia, cheia de sentimentos e questionamentos. Que ameaça, e porque não dizer, que faz. Uma Helena capaz de amar dois homens e de querer manter os dois embaixo de suas asas. Raras são as protagonistas que desfrutam de tal sentimento e ainda conseguem segurar o posto de "mocinha". Mas esse não é um feito inédito na carreira de Maneco, vamos relembrar suas Helenas e suas falhas. 

Viver a Vida - Thaís Araújo

Eu considero, mesmo ainda não tendo desfrutado de muita coisa dessa atual novela, Viver a Vida a pior obra de Maneco. Ele pecou por falta de história, e mais do que isso, por ofuscar a própria protagonista. Porém, nosso foco é nela e vamos falar de seus "pecados". Helena nunca foi hipócrita e nunca alimentou aquela velha história das modelos famosas: Trabalho para sustentar minha família. Ela mesmo alegou que trabalhava em detrimento próprio, ou seja, não é daquelas mocinhas "sonsas" que só saber gritar aos quatro ventos sobre suas bondades. Mais o ponto alto da história da famosa modelo foi quando ela viajou, juntamente com Luciana (Alinne Morais), seu maior desafeto, para Israel. Depois de uma discussão, Helena não poupou arrogância e mandou a garota ir de ônibus, para não ir em "seu" carro. Resultado: Luciana sofreu um acidente e ficou tetraplégica. Helena não pagou barato por isso, sendo acusada e rechaçada por Teresa (Lília Cabral), mãe de Luciana e ex-esposa de César (José Mayer), atual da protagonista. Mesmo assim, Helena acreditava que não tinha sido a culpada pelo acidente, além de ter ainda a história do aborto que ela fez no passado em prol de seu trabalho como modelo. 

Páginas da Vida - Regina Duarte

Regina deu vida às Helenas mais humanas ou que colocaram o amor por sua prole acima de tudo. Em Páginas da Vida, ela esconde de todos o nascimento de Clara (Joana Mocarzel), filha de uma paciente sua, depois de uma discussão com a avó da menina que renega a neta. Pois é, Marta (Lília Cabral) não quer saber da garota, por ser portadora de síndrome de Down e manda a médica dar um "jeito" em Clara, que ela irá criar o menino. Helena aceita esconder a história e cria a filha como se fosse dela. Com o tempo, o pai das crianças retorna e a história da menina acaba vindo à tona, já que a avó visa botar a mão na grana que Léo (Thiago Rodrigues), pai de Clara e Francisco, pode dar para ela. Helena nunca deveria ter escondido, buscasse então o avô, para ver o que ele pensava de tal situação, mas achou melhor deixa a história do jeito que estava e criar a menina. 

Mulheres Apaixonadas - Christiane Torloni

Quando Maneco criou a história dessa trama de 2003, muitos boatos surgiram a respeito. A princípio saíram matérias alegando que se criaria a primeira protagonista homossexual, porém, não foi muito a fundo a história. Helena não teve uma grande história, ela apenas reencontrava um amor do passado, que acabava por se relacionar com sua enteada. Dado esse reencontro, ela não consegue mais manter sua relação com Téo (Tony Ramos). Claro, que ele traia ela com outras, mas ela já havia ameaçado o trair no México, só não o fez, por falta de oportunidade.

Laços de Família - Vera Fischer

Uma Helena bonita, que mesmo sendo de meia idade, tivesse o "dom" de atrair um belo rapaz mais jovem. A escolhida era Vera Fischer, que retornava à TV em um papel de destaque, depois de um bom tempo. Foi uma das Helenas que demonstrou maior prova de amor pela filha, mas cometeu seus "erros humanos". Ela escondeu da filha Camila, que a garota era filha de uma relação extraconjugal sua, com o primo Pedro (José Mayer), sua paixão do passado. E mais do que isso, rompeu sua relação com Miguel (Tony Ramos) para que pudesse engravidar de Pedro e salvar a filha, Camila (Carolina Dieckmann). Bom, menos mal, ela terminar do que trair, né?! Outro ponto forte da relação dela com a filha, foi por conta de Edu (Reynaldo Gianecchini), que era seu namorado, mas acaba caindo nas graças da filha. Helena, assim como toda mulher, se sente perdida e rejeitada, e claro que não é fácil manter um sentimento de tamanho receio para com a própria filha. Mesmo assim, eu a considero uma das mais "politicamente corretas".

Por Amor - Regina Duarte

Regina deu vida à sua segunda Helena em parceria com sua filha na vida real, Gabriela Duarte. Talvez por isso, a história tenha ficado mais intensa, mais verdadeira. Helena não pensa duas vezes em trocar o filho morto da filha pelo filho vivo dela. Lindo seria, não fosse pelo fato dela nem pensar no Atílio (Antônio Fagundes), seu noivo e pai de seu filho. Quando a verdade vem à tona, Helena tem de pagar por seus crimes com a rejeição de todos. Eduarda, sua filha não acredita nela, alegando que a mãe quer lhe tirar Marcelinho. Talvez tenha sido a que pagou mais por seus "crimes", mas no final tudo se resolveu.


História de Amor - Regina Duarte

Outra Helena que prometeu e não cumpriu. A história original era do envolvimento de Helena e Joyce com o mesmo homem. Mas o autor resolveu mudar, por ser ainda um "tabu" nos idos de 1995 e no horário das 18 horas onde foi exibida. Regina Duarte não pensa duas vezes em alegar que foi uma das melhores novelas que fez e que não queria que acabasse. Essa Helena foi uma das que menos "pecou". Ela escondeu do ex-marido por uns tempos a gravidez precoce da filha e se apaixonou por um homem que estava prestes a se casar. No mais, ela foi amiga, mãe e uma das heroínas de Maneco menos intransigente, e porque não dizer, mais "santa".

Felicidade - Maitê Proença

Leninha assumiu o posto de segunda heroína homônima do autor, sem Maitê se quer imaginar que estava apenas dando sequência aquilo que Manoel Carlos teria como sua marca registrada. No interior de Minas Gerais ♥, Álvaro (Tony Ramos) conhece Helena, uma das moças mais bonitas da cidade. Os dois tem um caso e ela acaba engravidando, sem revelar a Álvaro que ele é o pai de Bia (Tatyana Goulart). Ela se muda pro Rio para esconder a gravidez dos pais e acaba se encontrando novamente com seu grande amor. Pois é, esconder do pai da criança sua identidade nunca foi digno de uma mocinha, né?! Logo, Helena acabou por pagar por seus pecados, atrasando sua vida ao lado de seu grande amor.

Baila Comigo - Lílian Lemmertz

Ela, que deu início a tudo isso. A primeira Helena se envolvia com um homem casado e já mostrava que não estava no patamar das mocinhas que só sofrem, choram e são incapazes de qualquer ação impensada. Desse relacionamento nasceram os gêmeos João Victor e Quinzinho (Tony Ramos). A mãe fica com um e o pai com outro. Com o tempo, os irmãos acabam se esbarrando e descobrindo toda a verdade. Pois é, mentir para o filho, abrir mão do outro, se envolver com um homem compromissado?! É, as Helena s realmente nunca foram santas, mas fez muito bem o papel da mulher de verdade, que ama, que briga por seus desejos, que vai à luta, que peca, mas que se regenera, que é capaz de atitudes levianas, mas que faz tudo o que pode para chegar onde acredita. Podem criticar, reclamar, cacarejar, mas as Helenas nunca são as mesmas, e elas nem se quer se parecem com as protagonistas de outros autores, elas têm alma, vida própria, são talvez os personagens mais humanizados da TV brasileira. E com o pouco que vimos da atual Helena, percebemos que ela já está nesse patamar, de mulher ardilosa, que se insinua, que provoca, mas que ama e faz tudo por seus amores.