O merchandising social que dá certo.


Gente, eu sei que ando relapso com as postagens, mas vou tentar melhorar isso. Vamos continuar com o especial Manoel Carlos. Hoje falaremos de algo que o autor sempre insere em suas novelas e o faz de forma prestimosa - sambando na cara do Walcyr Carrasco. Vamos voltar muito no tempo, na novela Baila Comigo (1981), onde surgiu a primeira Helena do autor. A trama abordava a questão do preconceito racial, quando tudo ainda era um tabu. O relacionamento do negro Otto (Milton Gonçalves) e da branca Letícia (Beatriz Lyra) serviu de estepe para discutir a respeito de tal temática. Se hoje em dia isso parece clichê, nos anos 80 não funcionava muito bem assim. 


Em Sol de Verão (1982), foi a vez de discorrer sobre a surdez. Mas ao invés de criar um personagem melancólico, o autor preferiu trazer um surdo que já estava adaptado ao seu mundo e conseguia conviver com todos da melhor maneira possível. Abel (Tony Ramos) se relacionava com várias mulheres, bebia com amigos; dessa forma o autor mostrou que era possível pessoas surdas terem uma vida normal, sem grandes empecilhos. 


Muitos anos depois, Manoel Carlos volta a abordar temas importantes na sociedade contemporânea. Em História de Amor (1995), o autor abordou o câncer de mama, da vizinha de Helena (Regina Duarte) de forma sublime e delicada; abordou também a paraplegia de um esportista, que tinha que se adaptar ao mundo novo depois de um acidente. 

 
Manoel Carlos volta então ao horário nobre com uma de suas melhores novelas, Por Amor (1997). Outra história que tinha vários momentos de merchandising social, mas o mais significativo foi o alcoolismo de Orestes (Paulo José). A situação era tão delicada, por conta de sua filha, de apenas 8 anos, ter mais responsabilidade do que ele. Dentre as outras temáticas, tinha ainda o preconceito social e racial. 


Em Laços de Família (2000) não foi diferente e o autor trouxe para a trama principal uma questão social, a leucemia. A novela teve tanta importância que aumentou relativamente o número de doadores de medula, e acabou rendendo à emissora o prêmio BITC Award for Excellence de 2001, um dos mais importantes prêmios de responsabilidade social. Além da leucemia, a trama trazia Flávio Silvino, que tinha sequelas de um acidente em uma história importante; bem como abordou o tema da impotência sexual masculina, através do personagem Viriato (Zé Vitor Castiel). 

 

Mulheres Apaixonadas (2003) foi uma das mais relevantes nesse quesito, mostrando o preconceito social, homofobia, num época em que o assunto não era tão discutido como hoje. Outra questão socioeducativa forte foi a situação de pessoas da terceira idade, o preconceito e a maneira como são tratados muitas vezes por seus entes.  Outro tabu que deu o que falar foi a morte por bala perdida de Fernanda (Vanessa Gerbelli), que causou burburinho por ter sido retratada num dos bairros nobres do Rio de Janeiro. Dentro dessa temática a novela ainda fez uma caminha pelo desarmamento, que rendeu bons frutos. E como esquecer da agressão contra mulheres, através do drama vivido por Raquel (Helena Ranaldi)?! Pois é, foi outra polêmica que, entre uma piada e outra, serviu para mostrar a dura realidade de mulheres que são espancadas por seus companheiros. O autor voltava a abordar a temática do câncer de mama e do alcoolismo, agora com uma mulher, professora, que enfrentava todos os empecilhos do vício


Em Páginas da Vida (2006) foi a vez da Síndrome de Down, que foi a base para toda a história da trama. Joana Mocarzel deu um show de interpretação ao viver a garotinha rejeitada pela avó, por conta de sua síndrome. Além desse tema, a bulimia foi o ponto alto da história, através da personagem Gisele (Pérola Faria). A trama ainda tratou do preconceito racial, novamente do alcoolimo com um outro viés e discorreu sobre a AIDS, mesmo que de maneira suscinta. 


Em Viver a Vida (2009), sua última novela, Manoel Carlos resolveu focar na tetraplégica Luciana (Alinne Morais), e deu tão certo que ela "roubou" o título de protagonista da Helena, de Thaís Araújo. A novela se firmou toda em cima dos dramas e das superações da personagem; foi criticada por conta de Luciana ser rica e contar com todo um aparato que nem todos os cadeirantes podem contar, mas mesmo assim, Manoel Carlos cumpriu mais uma vez seu papel. Voltou a abordar pela quarta vez o alcoolismo, agora com enfoque na anorexia alcoólica, através da personagem Renata (Bárbara Paz).


Fonte das imagens: Memória Globo