Dia Internacional da Mulher


Hoje é um dia muito especial. Não só pra elas, mas para nós homens, que não saberíamos viver sem a presença dessas belas mulheres! E pra comemorar esse dia tão especial, vamos lembrar das mulheres de alguns dos autores mais relevantes da teledramaturgia contemporânea. Cada um com seu estilo criou figuras icônicas do universo feminino na tela de nossa TV. Venha reviver essas personagens que firmaram seu lugar em nossos corações. 

Mocinhas ou vilãs: A ambiguidade feminina (João Emanuel Carneiro)

JEC (como é conhecido pelos fãs) assumiu a autoria titular com Da Cor do Pecado (2004). A trama trazia personagens muito bem estabelecidos, divididos entre o bem e mal. Porém, já víamos em Preta (Thaís Araújo) uma mocinha determinada, que não engolia as injúrias da vilã Bárbara (Giovanna Antonelli). Em Cobras e Lagartos (2006) ocorreu fato semelhante, com Bel (Mariana Ximenes) se tornando uma misteriosa mascarada para vingar as maldades da prima, Leona (Carolina Dieckmann). Mas JEC veio firmar seu lugar no mercado e na forma de retratar as mulheres com A Favorita (2008). Duas mulheres, duas versões de uma mesma história, quem está dizendo a verdade? Com esses dizeres, era anunciada uma novela a frente de seu tempo. Porque? Simples, não sabíamos quem era vilã e quem era mocinha! E assim foi também com sua sucessora Avenida Brasil (2012), um dos maiores sucessos da atualidade. JEC cria tipos femininos ambíguos, que se diferem sim entre mocinhas e vilãs, mas que não torna uma personagem mais fragilizada do que a outra. Todas são capazes de momentos de maldade, de vingança e de fúri; todas são determinadas em seus ideias, mesmo que no final elas vejam que tudo que fizeram foi em vão. Seja Nina (Débora Falabella), Carminha (Adriana Esteves), Flora (Patrícia Pillar) ou Donatella (Cláudia Raia).

A frente de seu tempo: Uma mulher independente (Gilberto Braga)

Elas são o carro-chefe das obras de Gilberto. Mulheres determinadas, cheias da razão e com uma convicção que, poucas no dia-a-dia, conseguem ter. Quem acompanha no ar, a novela Água Viva (1980), já percebeu a índole de Stella Simpson (Tônia Carreiro). Livre, independente, bem resolvida, tudo isso numa década onde as mulheres ainda  não tinha a "liberdade" que têm hoje. Mas muito antes disso, em Dancin' Days (1978), vimos uma Júlia Matos (Sônia Braga) determinada, recém saída da prisão e com o intuito de reconquistar o amor da filha; do outro lado Yolanda (Joana Fomm), a tia que criou a garota. Ambas tinha um foco e lutaram por ele, mas Júlia se destacou por seu espírito de mulher independente, sem medo de ser feliz e de agir segundo seus próprios ideais. Anos depois, Gilberto volta a ser sucesso de público com sua Vale Tudo (1988), uma das maiores audiências da teledramaturgia. E quem se esquece de Odete Roitman (Beatriz Segall), que humilhava a todos e que tinha caso com homens mais novos. Ah, Odete ditou moda e mostrou que a mulher do fim de 80 já não era mais a mesma. Em O Dono do Mundo (1991), surgiu outra personagem que merece destaque no quesito "livre, leve e desapegada", Thaís (Letícia Sabatella), a moça que se prostituía com o único objetivo de ascender socialmente. E a Celebridade (2003) Maria Clara Diniz (Malu Mader)? A trama foi de Laura cachorrona (Cláudia Abreu), mas a independente da vez foi a estrela Maria Clara, que tinha seu estilo de viver, sustentava a família e se relacionava com quem bem interessasse - e dava um pé na bunda quando estava afim.  A pérola da vez - e pra mim, uma das melhores personagens do autor - em 2011 foi Norma (Glória Pires), de Insensato Coração. Muito antes de Nina vingativa de Avenida Brasil, Norma já pintava e bordava com a cara de Léo (Gabriel Braga Nunes), o vilão que passou a perna na enfermeira. Ok, ela nos frustrou, porque acabou se apaixonando pelo mau caráter, mas mesmo assim, sambou na cara da sociedade sem dar satisfação a quem quer que fosse.

A mulher maquiavélica: vilã com muito orgulho (Sílvio de Abreu)

Que existem milhares de vilãs na nossa teledramaturgia, isso ninguém nega, mas que só Sílvio de Abreu consegue criar psicopatas maravilhosas, isso é fato. O que dizer de Laurinha Figueiroa (Glória Menezes), que se jogou do topo do prédio apenas para que o "crime" de assassinato caísse sobre as mãos de Maria do Carmo (Regina Duarte) em Rainha da Sucata (1990). E porque não se lembrar de Isabella Ferreto (Cláudia Ohana), a cria do mal da família italiana que não pensou duas vezes em jogar o carro da secretária que sabia demais no lago, depois de matá-la, em A Próxima Vítima (1995). Em Torre de Babel (1998) foi a vez de Ângela Vidal (Cláudia Raia), que tentou sequestrar o filho do amado e depois que o menino fugiu, ela fez a louca e se jogou da janela do quinto andar do prédio. Clássica mesmo é Bia Falcão (Fernanda Montenegro), que humilhava a neta, sambava na cara dos pobres, afinal, pobreza pega como sarna, né?! E pra finalizar, forjou a morte, não se mostrou arrependida de ter abandonada uma filha no passado e foi viver em Paris com Mateus (Cauã Reymond). Existe dúvida ainda que a vilã de Belíssima (2005) foi e sempre será insuperável?! Eis que houve uma tentativa de mostrar que o mal prevalecerá em Passione (2010). Clara (Mariana Ximenes) se casou com Totó (Tony Ramos) apenas por dinheiro, tentou matar o marido, não obtendo êxito, matou o meio cunhado e o patriarca da família Gouveia. Ironia do destino, ela acabou a novela como começou, cuidando de um idoso milionário, induzindo à ideia de que ela faria com ele o mesmo que fez com o marido de Beth Gouveia (Fernanda Montenegro).

As mulheres apaixonadas: o amor pode dar certo (Walcyr Carrasco)

Acompanhar a novela de Walcyr Carrasco é ter a certeza que o casal principal vai dar certo, querendo o público ou não. Ele cria mocinhas que amam seus homens acima de todas as coisas, mesmo que eles as humilhem, que não confiem nela, como ocorreu com Clara (Regiane Alves) em Fascinação (1998). A moça cai nas lábias do amado e se entrega pra ele, que acaba largando a moça por conta de uma armação de sua família. Mesmo assim, no final da trama, os problemas se resolvem e o casal termina feliz. Assim foi também em O Cravo e a Rosa (2000), que, num estilo mais cômico, entre tapas e beijos, armações e artimanhas, Catarina (Adriana Esteves) e Petruchio (Eduardo Moscovis) terminam a trama juntos e felizes. E isso se sucedeu em A Padroeira (2001) e Chocolate com Pimenta (2003), em que Ana Francisca é humilhada por todos e faz o mesmo que Clara, de Fascinação, se entregando ao amado. Com a ajuda do Meninão (Ary Fontoura), ela dá a volta por cima, mas ainda assim não esquece Danilo (Murilo Benício), de caráter duvidoso, com quem acaba terminando a novela. Alma Gêmea (2006) foi outra prova de armações e tramoias que tentaram impedir o amor de Serena (Priscila Fantin) e Rafael (Eduardo Moscovis), mas que no final deu tudo certo. Quando Walcyr foi pro horário das sete, ele ainda assim apostou nos amores proibidos ou que não tinham muito pra render e acabaram dando certo. Foi assim entre Beatriz (Priscila Fantin) e Dante (Reynaldo Gianecchini) de Sete Pecados; foi assim com Dafne (Flávia Alessandra) e Gabriel (Malvino Salvador), de Caras e Bocas (2008 - atualmente no ar); e de Júlia (Adriana Esteves) e Abner (Marcos Pasquim) de Morde e Assopra. Walcyr então chegou no mais cobiçado horário das nove, com a criticada Amor à Vida (2013), e ele insistiu na mesma fórmula, mostrando um amor cheio de empecilhos entre Bruno (Malvino Salvador) e Paloma (Paolla Oliveira).

Por trás de um grande homem sempre existe uma grande mulher (Walther Negrão)

Autor que escreveu clássicos personagens masculinos, deu início à uma figura feminina forte em Fera Radical (1988), onde Cláudia (Malu Mader) voltava à sua cidade natal para se vingar daqueles que atearam fogo em sua casa. Em Despedida de Solteiro (1992), os homens voltavam a ser o foco da trama, mas um dos destaques foi Dona Emília (Lolita Rodrigues), uma mãe que perde um dos filhos e se torna amarga e rancorosa. Em Tropicaliente (1994), os pescadores eram os personagens principais da trama, mas quem foi o grande destaque foi a rica Letícia (Sílvia Pfeifer), que reencontrara num desses pescadores um grande amor. Um homem solitário, mesmo na presença de sua noiva, pai de quatro filhos era o estopim para a história de Madalena (Drica Moraes), uma mulher cheia de mistérios, em Era Uma Vez (1998). Como uma Onda (2005) trazia o português Daniel (Ricardo Pereira), fugitivo, como o ponto alto da trama, mas Nina (Alinne Morais), sua amada que deu o tom na trama e fez da história de ação e aventura, um dos melhores romances do autor. A sucessora Desejo Proibido (2008) já tinha na mulher uma de suas bases, em que Laura (Fernanda Vasconcelos) a tentação para o padre Miguel (Murilo Rosa). Em Araguaia (2010), Walther apostava num triângulo com duas mulheres de fibra, mesmo que o ponto da trama fosse Solano (Murilo Benício), que carregava o karma de sua família, o de morrer jovem, por conta de uma maldição indígena. As mulheres em questão eram Manuela (Milena Toscano), moça rica da região e Estela (Cléo Pires), uma das integrantes da aldeia indígena da região, que livraria Solano de seu mal. Em Flor do Caribe (2013), o autor voltava com um triângulo amoroso e uma história meramente masculina, mas que não seria nada, caso a personagem Ester (Grazi Massafera), não mostrasse sua fibra e sua força diante dos empecilhos que lhe surgiam.

Eta mulher porreta! (Aguinaldo Silva)

Uma de suas adaptações, Aguinaldo Silva já mostrava a que veio trazendo uma mulher que sabia o que queria e não se importava com o que iam falar. Sabe de quem estou falando?! Ela mesmo, Tieta (1989). Vivida esplendorosamente por Betty Faria, a mulher que voltava à cidade após sofrer humilhação de todos, foi um dos maiores sucessos da história da TV. Anos depois, ele volta a mostrar uma mulher de fibra, que sabe o que quer e vai atrás de seus ideais, Helena (Adriana Esteves) de A Indomada (1997). A moça que tinha seu destino já traçado por conta de uma dívida, conseguiu dar a volta por cima, e ficou com o rapaz apenas por ser seu amado, mas não por conta de um aprisionamento financeiro. Em Porto dos Milagres (2001), foi a vez de Lívia (Flávia Alessandra) enfrentar sua família para viver o amor com um homem de nível social inferior, o pescador Guma (Marcos Palmeira). A sucessora e dona de um sucesso inexplicável, trazia uma nordestina danada de bem resolvida, que cuidou sozinha de seus filhos e nunca cansou de procurar sua filha roubada. Como esquecer de Maria do Carmo Ferreira da Silva, a eterna Senhora do Destino (2005). Quando Aguinaldo criou Duas Caras, a trama tinha como ponto de base o vilão Marconi Ferraço (Dalton Vigh), mas não seria nada, se num fosse a vingança da mulher rejeitada e roubada, Maria Paula (Marjorie Estiano), que enfrentou inclusive a ciumenta e louca Sílvia (Alinne Morais), namorada do protagonista. Em sua última novela, Fina Estampa (2011), Aguinaldo trouxe novamente uma mulher para se inspirar, Griselda, que assim como Maria do Carmo, criou seus filhos sozinha, através de muita luta e sem medo dos problemas. 

Obs.: O autor escreveu em parceira com Dias Gomes, Roque Santeiro (1985), que tinha a eterna viúva Porcina (Regina Duarte), o personagem feminino mais inesquecível da TV brasileira. 

A mulher do nosso cotidiano, a mulher que faz tudo por amor. (Manoel Carlos)

Atualmente no ar com Em Família, o autor não cansa de mostrar que é, dos homens, um dos maiores entendedores do universo feminino. E assim foi com todas suas obras. Em A Sucessora (1978), Maneco trouxe a sofredora Marina Steen (Susana Vieira), que tinha de lidar com a memória do marido para com a falecida esposa. Em Baila Comigo (1981), tem início sua saga de Helenas, e com Lílian Lemmertz, ele cria uma personagem eternizada, que abandona um dos filhos gêmeos e fica com o outro. Sol de Verão (1982) teve pra mim um dos maiores exemplos de mulher, com Raquel (Irene Ravache), que larga sua bem sucedida família, e acaba por se relacionar com um mecânico oposto de seu ex marido. A mulher que se sentia incomodada com a vida que levava e que não pensou duas vezes em buscar sua felicidade em outro lugar. Depois de anos fora da emissora, Maneco volta à Globo com Felicidade (1992), trazendo sua segunda Helena (Maitê Proença), que escondia de um homem a paternidade de sua filha, bem como de Bia, a garota. Em História de Amor (1995), de volta a partir de segunda, traz uma Helena (Regina Duarte) mais vivida, que mesmo assim não sabe lidar bem com os problemas da filha jovem Joyce (Carla Marins). Porém, na sucessora Por Amor (1997), Manoel Carlos mostra que realmente, suas mulheres são capazes de tudo por amor, quando Helena (Regina Duarte) entrega pra filha o filho vivo, em prol do bebê morto. A novela foi e ainda é considerada um dos maiores sucessos do autor, e com certeza tem uma das histórias mais emocionantes e questionadoras. Outro grande sucesso foi Laços de Família (2000), em que Helena (Vera Fischer) engravida de um homem que não ama, apenas para salvar a filha de uma leucemia. Novamente o autor aposta numa prova do amor mais incondicional que existe, de mãe e filhos. Sobre Mulheres Apaixonadas (2003), são tantos tipos, que não tem como escolhermos uma representante, mas sim todas. Em Páginas da Vida (2006), o autor mostra que mãe não é apenas a biológica, mas qualquer mulher pode dar o amor que não se mede para suas crias. Retratou Helena (Regina Duarte), que adotava Clara, portadora de Sídrome de Down, rejeitada pela própria avó. Na sua última trama, a mais mal sucedida, Viver a Vida (2009), ele trouxe uma Helena (Thaís Araújo) sofredora, que tinha de lidar com o aborto que fez no começo de carreira, bem como com o acidente da enteada, que causou a tetraplegia da mesma. Não há dúvidas que Manoel Carlos sabe interpretar e escrever sobre esse universo cheio de lutas e amores. 

A mulher pela mulher (Glória Perez)

Me desculpe Maneco, mas não existe na atualidade, mulher que entenda mais a mulher do que ela mesma, Glória Perez. Quando um de seus maiores sucessos, Barriga de Aluguel (1990) foi engavetado, a autora logo se mudou, e em seu retorno à Globo, ela teve a sorte de ter essa novela lançada, praticamente emendada em sua minissérie anterior, Desejo (1990). O assunto ainda era um dos maiores tabus da época, e com quem deveria ficar o tal bebê?! Com a mãe biológica que se propôs a dar o filho ao casal, ou com a mãe que esperou ansiosamente pela criança?! Em De Corpo e Alma (1992), Glória mostrava um amor surreal, mas além disso, trazia o drama de uma família que teve os filhos trocados, e mães Bia (Maria Zilda) e Terê (Neusa Borges), que amaram seus pequenos independe da cor de pele ou de que não fossem seus. Novela essa também que marcou a vida da autora, ao perder sua filha, Daniela Perez que integrava o elenco. Em Explode Coração (1995), O Clone (2001) e Caminho das Índias (2008), vimos Dara (Tereza Seiblitz), Jade (Giovanna Antonelli) e Maya (Juliana Paes), enfrentando suas famílias, suas crenças, para viverem grandes amores, mesmo que pra isso, elas tivesse de ser "jogadas ao vento" e rejeitadas pelos seus. Em América (2005) e Salve Jorge (2012), Glória foi além, e trouxe Sol (Deborah Secco) e Morena (Nanda Costa), que lutaram até o fim por seus ideais, o de trazer melhor futuro pras suas famílias e dar-lhes a certeza de dias melhores. 

Assim como Glória outras grandes mulheres passaram pela autoria de telenovelas, como Glória Magadan, Ivani Ribeiro, Leonor Basséres, Janete Clair, Elisabeth Jhin, Cristiane Fridmann, Maria Adelaide Amaral, Lícia Manzo, Maria Carmen Barbosa, Ana Maria Morethzsohn, entre outras. E elas cumpriram seu papel em trazer à tona o melhor do universo feminino, bem como os autores. Personagens que ficaram em nossa mente e em nossos corações, mulheres que fizeram de nossos dias mais felizes, assim como as mulheres que nos rodeiam; sejam mães, irmãs, amigas, avós, tias, entre tantas outras. Que não seja somente mais um dia para você parabenizá-las, mas que o faça sempre, para lembrar do seu real valor, lembrar que sem elas, nós homens, não seríamos nada. Feliz dia para todas as deusas, as loucas e as feiticeiras da nossas vidas!