E a audiência que estava aqui?


Hoje vou exercer meu conhecimento a despeito do assunto, e cumprir meu papel de analista de discurso, tentando entender o que se passa com as novelas atuais e suas crises intermináveis. Vamos começar pela mais sofrida de todos, Pecado Mortal, da Rede Recalque Record. A trama que tem autoria de Carlos Lombardi, ex-global, não conseguiu passar da casa dos 10 pontos e se consagrou como mais um grande fiasco da emissora. Eu vou ser sincero e dizer que não curto muito, nem a Record, nem os textos do Lombardi, mas como acompanho as críticas sobre teledramaturgia, averiguei que a trama foi o objeto mais injustiçado da temporada na telinha. Os atores eram bons, isso pude acompanhar, bem como pelo que li nos resumos, a história era um atrativo a mais. Sem muito resultado, a novela sai da TV como entrou, fracassada. 
E nem só de Record vivem as quedas bruscas de audiência. A Globo vem enfrentando isso em todos os seus horários. Joia Rara não engrenou, e Thelma Guedes em entrevista à Caras, confirmou sua tristeza e seus palpites com relação ao tal "fracasso" de audiência. Horário de verão, o calor insuportável, uma novela séria demais, etc. Além do Horizonte foi outra que enfrentou as crises e hoje respira de maneira melhor, mas que ainda corre o risco de levar o título de pior audiência do horário. E pra finalizar, a atual trama das nove, que sofre com seus baixíssimos números. Em Família marca o término da carreira de Manoel Carlos, e ao invés de fechar com chave de ouro, pode ser que o autor esteja enfiando os pés pelas mãos.
Vamos às análises individuais. Pecado Mortal veio em um período negro da Record, que começou com Máscaras, novela esta que entrou pro hall das piores audiências da teledramaturgia brasileira. A audiência da emissora do bispo já não vinha sendo mais a mesma, chegando a perder em vários momentos pro SBT. Quando se perde abruptamente em números, é muito raro conseguir o êxito de forma plena, logo, por mais que Carlos Lombardi fosse sinônimo de sucesso na Globo, não significa que ele iria colocar os pés na emissora e a audiência chegaria repentinamente. Ou seja, a novela se arrastou pelo horário, bem como a antecessora, Dona Xepa. A emissora não deu a devida importância pra trama e acabou passando batido. 
Joia Rara começou já fazendo oposição à sua antecessora, Flor do Caribe. Esta era uma trama solar, com cenas nas praias do nordeste, histórias não tão densas, personagens mais próximos do nosso cotidiano; ao passo que a atual trama das seis tem cores escuras, histórias "pesadas" e volta ao questionamento já feito pela Globo, se as tramas de época fazem o mesmo sucesso de anos atrás. Lembrando que no horário das nove, depois do fiasco de Esperança, não se cogita nem a hipótese de se criar novelas épicas. E não foi só Joia Rara que pagou alto por sua antecessora. Além do Horizonte sofreu do mesmo mal, em se tratando de Sangue Bom. Esta, escrita por Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, trouxe um enredo mais cômico, com personagens icônicos, como Bárbara Ellen (Giulia Gam) e a Mulher Mangaba (Ellen Roche). Ao passo que a atual novela das sete traz um universo mais misterioso, digno de seriados americanos, com poucos personagens cômicos. Aliás essa era a ideia principal, porque depois das mudanças, os núcleos voltados pra comédia passaram a ganhar mais lugar na história. Hoje em dia, os autores podem respirar aliviado, mas a novela ainda carrega a chance de levar o título de pior audiência do horário. 
Agora uma que não pode se apoiar na antecessora é Em Família. Ao menos na minha opinião, já que pra mim, Amor à Vida foi um fracasso. Ok, ela manteve a audiência, mas em termos de qualidade foi uma trama bem questionável. Pelas leituras que fiz sobre tal assunto, o problema da trama de Manoel Carlos é o ar melancólico, com personagens com carga altamente dramática. Nunca foi o forte do autor mesmo abordar cenas cômicas em suas novelas, mas quem acompanha História de Amor, pelo canal Viva, pode perceber mais leveza nos personagens. Porque se observarmos mais a fundo, vemos que o autor seguiu o mesmo estilo, com dramas pessoais e personagens que parecem viver ao nosso redor. A trama principal é fraca, mas ele pode se apoiar em tramas paralelas fortes, como o drama de Juliana, de Neidinha, entre outros. A verdade é que, desde antes, Maneco afirmou que faria uma novela no seu estilo, lenta, que seguisse o ritmo do cotidiano real. Nunca foi novidade que o autor não é do Team João Emanuel Carneiro, com cenas cheias de ação, com perseguições, psicopatas, vingança, etc. O que acaba sendo questionável, é no que tange às críticas, que alegam que Manoel Carlos é repetitivo. A realidade é que vivemos em mundo onde a telenovela é repetitiva, e ponto. Glória Perez e seus países exóticos, João Emanuel Carneiro e suas mulheres rivais e vingativas, Gilberto Braga e suas mulheres rancorosas que odeiam os maridos acomodados, Aguinaldo Silva e os imigrantes nordestinos que deram certo na vida, Sílvio de Abreu e o "quem matou?"... Em Família é mesmo melancólico, e ainda acho que o maior mal esteja no que, Aguinaldo Silva afirmou sobre Manoel Carlos, suas novelas são elitistas, não mostram o povo para o povo, mas sim um lugar quase impossível para a população em geral alcançar.
Em suma, todas as novelas pagam pelo mal das antecessoras terem um estilo mais folhetinesco, por terem dado mais certo, e pelo fato delas, as atuais, não terem medo de ousar. Afinal, até Em Família faz parte da geração "órfãos de Avenida Brasil", onde nada foi bom pra ninguém, depois da rivalidade entre Nina e Carminha. Acho que chegou a hora do povo brasileiro parar com essa mania de comparar; a novela foi boa? Ok, mas acabou, como tudo nessa vida... Vamos deixar a frustração de lado e começar a ver que toda novela tem seus pontos positivos e negativos, só precisamos abrir mais os olhos e deixar de lado nossos pré-conceitos.