A Flor que desabrochou


Hoje vai ao ar o último capitulo de Flor do Caribe, a novela que, sem grandes pretensões, deu certo no horário das seis.  Walther Negrão usou e abusou de suas receitas clichês, com grandes aventuras, vilões exageradamente malvados e grandes romances secundários. Mas porque essa novela deu tão certo?! Vamos ver alguns fatores que culminaram no sucesso de Flor do Caribe. Pra entrar no clima, aperte o play e leia ouvindo "Em Paz" de 5 a seco e Maria Gadú.
As antecessoras fracassadas.

Lado a Lado foi um perfeição no que diz respeito à historicidade dos fatos, além da indumentária dos personagens. Estreia de Cláudia Lage e João Ximenes Braga, como autores, eles criaram uma história bonita de se ver, mas que fugia ao estilo típico de folhetim, até mesmo para um horário mais humilde, como das 18 horas. A novela encerrou sua jornada com média de 18 pontos, considerado baixíssimo para os padrões. Quando Flor do Caribe surgiu, trazendo uma trama contemporânea, cheia de luz e com cenários indescritíveis, ela já cativou. Ela veio em total oposição à antecessora, que tinha um cenário mais monocromático, mais escuro e, como toda trama de época, com roupas, trilha sonora e atuações mais densas. E nem só de repercussão viveu a trama, que encerra sua jornada hoje com 22 pontos de média, segundo site O Planeta TV.
Mas falando de uma forma geral, se considerarmos Malhação como uma antecessora da novela das seis - já que ela entrega o horário para esta -, podemos dizer que Flor do Caribe se superou mais uma vez. O seriado passa por momentos drásticos, como uma audiência que não sai do patamar de 12 a 15 pontos, considerados baixíssimos. Mesmo assim, a novela segurou o público diante da TV e ainda obteve mais 10 pontos - cada ponto equivale a 62 mil domicílios. 
Mas voltando a Lado a Lado, se a novela agradou tanto a crítica, por outro lado, não caiu no gosto das chamadas "donas-de-casa" - uma forma pejorativa de nomear os telespectadores típicos de folhetins. E o contrário aconteceu com Flor do Caribe, que segundo informações, conquistou um grande número de noveleiros, mas que é considerada fraca para a crítica. Eles alegam que a novela só trouxe belas imagens do Rio Grande do Norte, permanecendo no limbo no que se refere a elenco e trama.

Parecia repetitivo, mas deu certo.

Quem assistiu ao filme Pearl Harbor (2001), filme que traz relatos da Segunda Guerra Mundial, pôde perceber a proximidade da trama de Walther Negrão. Em ambos, é mostrada uma grande amizade entre dois rapazes, e quando um desaparece, o outro começa a se relacionar com a noiva do amigo. A diferença? Está no fato de que a saída do mocinho de cena, na novela, foi gerada propositalmente pelo "amigo", que se tornou vilão da história. Bom, mesmo assim, a base da história era a mesma, inclusive relatando o retorno espantoso de Cassiano (Henri Castelli) e da dúvida de Ester (Grazi Massafera) quanto ao seu sumiço. Porém, essa história que já renderia meses de conteúdo a ser explorado, durou pouco tempo e nesse momento, o autor mostrou que se adaptou aos novos tempos, e trouxe mais agilidade à história. 
Uma curiosidade a respeito disso é que além da história principal ter ligação com o filme citado, outra trama dentro da novela tinha a ver com o longa. Ambos retrataram a temática da Segunda Guerra Mundial; o filme como pano de fundo para a história de amor, enquanto a novela trazia personagens que vivenciaram o drama dos campos de concentração daquela época. Essas histórias inclusive tiveram grande repercussão dentro da novela, servindo de chave para o final do vilão Dionísio (Sérgio Mamberti), o mensageiro da morte. 

O vilão indefectível. 


Igor Rickli, um nome novo dentro da teledramaturgia, mas que sempre ficará marcado na história da TV. O ator conseguiu ser uma das estrelas da novela, por conta de seus grandes momentos dentro de Flor do Caribe. Sempre invejoso, sempre manipulador, sempre tramando contra quem insistisse em entrar em seu caminho, ele se firmou como um dos maiores vilões, não só do horário, mas teledramaturgia atual. 
Raros são os casos em que há homens malvados nas novelas, já que as vilãs estão sempre mais em alta. Por isso, creio que a aposta de Walther Negrão - que traz na carreira grandes vilões -, tenha sido excelente, em criar um típico "malvado" de novela. 
Alberto não fez questão de esconder que queria tudo de Cassiano, em um dos diálogos com o "amigo". Ele alegava que este lhe tinha tirado tudo, fosse o amor de Ester ou mesmo o "afeto" das pessoas da Vila dos Ventos. A verdade é que o vilão foi movido única e exclusivamente por uma inveja incontrolável de Cassiano. Não bastasse ter tudo que quisesse, ele sempre queria o que o outro tinha, e não pensou duas vezes em tirá-lo do caminho. 
Nesse semana Alberto foi internado num hospício, algo meio comum para vilões em novelas, mas soou de forma diferente em algum momento. Talvez pela atuação primorosa de Igor e de Cláudia Netto, que deu vida a Guiomar, sempre presente nas cenas de Alberto. Os dois foram responsáveis por grandes cenas de emoção dentro da história, já que, segundo o vilão, sua mãe o abandonou aos cuidados do avô mal caráter. 
Entre verdades e mentiras, é fato que o personagem Alberto oscilava entre o homem que lutava por seus objetivos, independente do que tivesse de ser feito para chegar a algum fim; e entre o homem fragilizado que chorava pela perda da mulher amada e sofria pelo abandono materno.

Em suma, uma novela que deu certo, porque trouxe os ingredientes necessários para isso. Era leve para o horário - diferente de A Vida da Gente que sofreu com as críticas por ser considerada densa demais. Tinha química entre o triângulo amoroso principal, além da grande melhora na atuação dos mesmos. Os coadjuvantes conseguiram chamar a atenção necessária, sem tirar o foco da trama principal. E claro, não podemos esquecer das belas imagens capturadas pela direção de Jayme Monjardim, que foram fundamentais para atrair mais anida os telespectadores.
Em minha humilde opinião, creio que esta tenha sido uma das melhores obras de Walther Negrão, pelo seu contexto em geral. Alheio aos críticos, creio que o elenco deu o melhor de si e inclusive trouxe à tona grandes atores e atrizes, que até então estavam fadados aos cargos de secundários nas tramas. Falando bem claramente, era o tipo de novela perfeita pra se chegar em casa, esquecer dos problemas e se deixar levar por uma história leve, porém, bem sucedida. Antes de terminar, deixo meu destaque na trama para os pedidos de casamento, que foram, na minha opinião, pontos fortes da trama. Amaralina (Stephany Brito) se surpreendeu com o pedido, em meio à canção "Exagerado", na voz de seu amado Rodrigo (Thiago Martins), numa cena linda:



Mas pra mim, perfeito foi o pedido de Cassiano para Ester - segundo aliás, já que no primeiro capítulo ele já havia feito seu primeiro pedido à moça -, confira:



Pra finalizar, eu deixo um trecho de uma música de Marcelo Jeneci, presente na trama. 

A gente é feito pra acabar, a gente é feito pra dizer que sim
A gente é feito pra caber no mar, e isso nunca vai ter fim