Motivos para amar Manoel Carlos.


Daqui a dois meses e meio, entra no ar a possível última novela de Manoel Carlos. E já é com pesar que eu aguardo ansiosamente para que seja um final triunfal, digno da carreira de sucesso que ele trilhou ao longo dos anos. Os leitores do blog já devem ter percebido minha "quedinha" por Maneco, no que diz respeito a telenovelas, já que nunca fiz questão de esconder meu favoritismo. Hoje vou elencar alguns motivos que faz com que Manoel Carlos seja, não somente mais um autor de novelas, mas um criador de histórias inesquecíveis e emocionantes. 

Fonte: Ig

1. A trilha sonora.

Tá aí uma coisa que me deixa inebriado, as trilhas sonoras. Sempre com um toque de MPB e Bossa Nova, o autor faz questão de participar da escolha das músicas que comporão sua novela. Intercalando com clássicos da nossa música, estão hits nacionais fora do mercado 'popularesco', tão presente em outras tramas. São as trilhas que não foram feitas para conquistar o maior número de gente, mas para conquistar pessoas que apreciam a boa música. Trilhas que vão além dos hits do momento - que incluem sempre um funk, um pagode ou alguma banda de tecno-brega ou coisas do gênero, que estiverem no auge no momento. As trilhas internacionais não fogem muito à regra, elas trazem clássicos do soul, blues, misturadas com pop românticos da época em que a novela é transmitida. Tal feito garante realmente uma maior vendagem, diferente do que se espera do disco nacional, mas não chega a ser algo relevante, haja vista que as trilhas internacionais de novelas seguem um mesmo parâmetro. Confira a seguir dois clássicos da Bossa Nova que estiveram presentes, respectivamente, nas trilhas de Laços de Família (2000) e Viver a Vida (2009)
2. As aberturas.

A canção de Viver a Vida foi tema da abertura da novela, que inclusive foi uma das mais inovadoras dentre as últimas tramas do autor. Ela era minimalista e trazia cenas da novela, que segundo o próprio autor, iriam ganhando vida ao longo da história. Ou seja, o objetivo da abertura era mostrar a vida sendo feita a partir de pequenos traços, como se mostrasse a trajetória do ser humano ao longo de sua jornada. Complexa? Sim! Com isso, ninguém entendeu muito e a abertura entrou na lista das mais criticadas. Porém, nem sempre as coisas foram assim nas novelas de Maneco. Em História de Amor (1995), Hans Donner começou a perceber a sensibilidade do autor e retratar momentos cotidianos, em especial de um casal. Na seguinte, Por Amor (1997), marcando seu retorno ao horário nobre, eram apresentadas fotos de Regina e Gabriela Duarte, durante suas vidas. Com o intuito de trazer mais realidade à história, o autor alegou que a novela não existiria caso uma das duas não pudesse trabalhar. Em Laços de Família, volta à tona as cenas do cotidiano, mas dessa vez de uma forma geral e mais introspectiva, com momentos retratados em pinturas que se movimentam. Mulheres Apaixonadas (2003) trouxe um recurso inusitado, que caiu nas graças do público, as fotografias enviadas pelos próprios telespectadores. Mais do que sucesso, é uma das aberturas mais relevantes na carreira de Manoel Carlos. Páginas da Vida (2006) voltou ao estilo de Laços de Família e trazia novamente as cenas cotidianas no ensolarado Rio de Janeiro, que só Manoel Carlos sabe mostrar. Confira a abertura original de Mulheres Apaixonadas, criada com atores pelo próprio Hans, as exibidas posteriormente que apresentavam fotos enviadas:


3. O merchandising social que dá certo.

Todos já perceberam que Walcyr Carrasco deu um tiro (ou vários) no pé quando resolveu abordar questões de merchandising social em Amor á Vida. Talvez o autor que mais consiga transmitir esses problemas que envolvem a sociedade moderna realmente seja Maneco, afinal de contas, até hoje isso deu certo em suas novelas. O autor viu os dois lados da moeda ao retratar temas como alcoolismo, câncer, AIDS, bulimia, impotência sexual, além de outros "tabus". Se por um lado ele conseguiu cativar, como ocorreu em Laços de Família, com o "'efeito Camila' - o aumento significativo no número de doadores de sangue, órgãos e medula óssea por conta do drama da personagem de Carolina Dieckmann"; por outro, alguns assuntos sérios viraram motivo de chacota, como a professora alcoólatra Santana (Vera Holtz), de Mulheres Apaixonadas. Outro momento ambíguo na história do merchandising social é com relação à personagem Luciana (Alinne Moraes), de Viver a Vida. O autor realmente foi consagrado por mostrar tão bem a situação de pessoas tetraplégicas e seu retorno à sociedade, desde psicológica quanto fisicamente. Mas algo que virou motivo de crítica foi com relação às facilidades encontradas pela personagem, que era de uma família rica e tinha todos os recursos possíveis para a melhora, como aparelhos modernos em sua própria residência. Em suma, ele conseguiu realmente transmitir o que desejava, de uma forma ou de outra, sempre.
Fonte: Centauro Alado

4. As Helenas.

Mais do que meras protagonistas, elas viraram sua marca registrada. Vivida primeiramente por Lília Lemmertz, em Baila Comigo, o autor só trouxe à tona seu afeto pelo nome em Felicidade (1992), quando começou de vez a sequência de Helenas nas novelas. Maitê Proença, Regina Duarte por três vezes, Vera Fisher, Christiane Torloni e Thaís Araújo. Cada uma com seu jeito, mostrando que mocinha não é tão somente uma figura frágil que está suscetível às artimanhas de grandes vilões, mas elas também são capazes de errar e de brigar pelo que elas desejam, pelo que elas amam. Se por um lado, Thaís não teve tanto destaque quanto merecido ou esperado em Viver a Vida, por outro lado, ela representou bem a Helena forte, que não se abate diante de situações difíceis, mas que ao mesmo tempo se vê angustiada e decepcionada com a situação que gerou - no caso, muitos a julgavam culpada pelo acidente de Luciana. Elas traíram e mentiram, mesmo que fosse em prol de alguém que elas amavam e isso demonstra que elas eram mulheres de carne e osso, protagonistas que não sucumbiam diante de seus medos e mostravam que é possível você ser bom e mal, de acordo com a situação vivida.

Fonte: BOL

5. O cotidiano.

Ir na livraria, ficar horas de conversa, tomar sorvete, cozinhar, passear na praia, brincar com as crianças. Coisas comuns do nosso dia-a-dia refletidas nas novelas, o que faz com que muitas vezes nos identificamos mais com os personagens. Nos dias de hoje, com a mistura de gêneros ocorrida na ficção - as telenovelas ganharam uma dosagem de série, com tramas mais agilizadas -, momentos do cotidiano começam a passar desapercebido na teledramaturgia. Mesmo assim é algo bem interessante de acompanhar, pois nos sentimentos mais parte daquela história, que mesmo sendo uma ficção, tem elementos comuns do nosso próprio dia-a-dia. 

Fonte: Contigo

6. A ostentação

Ao mesmo tempo em que nos sentimos parte do cotidiano daqueles personagens, por outro lado nos distanciamos no que diz respeito à uma vida que muitas vezes não faz parte do nosso dia-a-dia, da minoria brasileira, a classe média alta das grandes cidades. Com festas nababescas e jovens cheios de saúde e vitalidade, as tramas de Manoel Carlos polemizam no que tange à sociedade brasileira, que vive às turras ainda com problemas que vão desde saneamento até à má distribuição de renda. Em sua última trama, o autor mostrou uma favela, porém, a história não teve tanto foco e foi mostrado apenas o cotidiano de modelos, produtores, entre outros que faziam parte do núcleo endinheirado da novela. Mas quem não curte um boa história com passeios de jet sky em Angra dos Reis, viagens pela México, Oriente Médio e Japão? A ostentação é algo comum em novelas, em especial das oito, e apesar de muitos críticas estarem apenas esperando o momento de entrarem em cena para alegar que as novelas não retratam comportamentos dos brasileiros, lembremos que tudo é apenas ficção e que por mais que traga elementos da realidade, não passa de mais um história a ser contada. 

Fonte: Abril

Brincadeiras à parte, eu entendo as críticas pelas quais o autor passa e lhes digo que concordo em partes com algumas. Atingir a perfeição no ramo da teledramaturgia é algo impossível e mesmo que um autor emplaque sucessos de audiência, ele não poderá ser considerado gênio - vide Aguinaldo Silva, autor de grandes sucessos de número, mas que na minha opinião, tem uma qualidade de novelas beeeeem questionável. Eu acredito e sempre vou acreditar no potencial de Manoel Carlos, pois ele tem uma lista brilhante de trabalhos na TV e creio que finalizará sua carreira lindamente ano que vem. Por anos, ele alegou que várias novelas suas seriam as últimas, mas dessa vez sinto que ele realmente está falando a verdade. A próxima Helena será vivida por Júlia Lemmertz, filha de Lília, que deu vida à sua primeira Helena; mais um motivo para crer que sua carreira está chegando ao fim.  Li num tumblr uma crítica a respeito do autor, na realidade li apenas o começo em que ela diz que seu trauma vem desde Felicidade, quando era obrigada a ver a novela com a mãe. Bom, talvez meu caso seja o oposto, também fui "obrigado" a assistir suas novelas, mas diferentemente da autora do Tumblr, eu me apaixonei pelas histórias do autor, pela delicadeza com que ele conta as histórias, pelo modo sutil com que constrói seus personagens, pra mim tão marcantes. Fica em mim a certeza de que, por mais que ele pare seus trabalhos para a TV com a futura Em Família, eu sempre vou tê-lo como meu autor favorito (e estou ansioso para essa estreia em janeiro).