Porque "Ringer" foi um fracasso e "A Usurpadora" um sucesso.


Se você não acompanhou uma das duas obras ficcionais citadas no título, provavelmente não deve ter entendido a ligação entre a série norte-americana, exibida pelo canal CW e a novela mexicana, transmitida pela RCTV e produzida pela Televisa. As duas histórias são praticamente as mesmas, contando a história de uma gêmea sonsa boa (ou tentando ser) que assume o lugar da gêmea piranha inescrupulosa, que só quer um milhão de dólares para se divertir. Porém, Ringer fracassou e parou na primeira temporada, num total de 22 episódios (que eu não terminei de ver até hoje), enquanto A Usurpadora  se tornou um fenômeno de audiência não só no México, mas em todo o mundo. Para dar um exemplo do estrondoso sucesso, no Brasil, onde a predominância às 20:00 horas sempre foi pela Rede Globo, a novela mexicana conseguia arrancar 27 pontos de audiência, considerado excelente por ser transmitida pelo SBT.


Mas eu lhes questiono: Porque uma foi tão bem e a outra foi um fracasso? A minha opinião é que o problema está na população para o qual ela é feita, nos telespectadores. Ao que se sabe, nos EUA, A Usurpadora nem foi tão bem repercutida assim, logo a história lá já pode não ter cativado tanto quanto em outros países, mais acostumados com telenovelas e seus ritmos. Os EUA convive bem com as séries de TV, onde existe uma maior movimentação de personagens, assim como histórias menos densas e mais versáteis. Ringer provou não ser assim, tinha histórias que traziam o mistério necessário, mas estava longe de ser um grande sucesso no quesito "série de suspense", pelo ritmo menos lento e histórias tão densas, que gastariam tempo para se desenrolar.


No México, as coisas parecem mais fáceis, pois, assim como no Brasil, estão acostumados com produções mais longas, e consequentemente, mais lentas. Tanto que tal processo de aumento de velocidade dos fatos só se deu aqui após a elogiada Avenida Brasil, que ao se construir nas bases de Revenge, conseguiu manter o ritmo acelerado da trama - não estou deixando de lado as novelas sempre agitadas de Gilberto Braga, mas ainda não era um processo constante como há hoje em dia. A respeito de Ringer, uma citação interessante ocorreu no site PapelPop, a seguinte: 
“Ringer” reúne uma série de clichês, abusa do chroma key nas cenas, tem diálogos bregas e é bem trash. Mas é irresistível! Se você não se envolver com a história, ao menos você conseguirá ter boas risadas!

Pois é, "diálogos bregas e é bem trash", coisas que nós achamos graça, mas que os EUA ao meu ver, não acham tão "resistíveis" assim. Novamente vou dar o exemplo dos semelhantes Avenida Brasil e Revenge; ambas tratam da vingança de uma filha em prol do pai morto injustamente, mas e quanto ao cenário dessa vingança? Já prestou atenção? Os EUA trazem a pompa dos Hamptons, uma zona balnear próxima de Nova York; enquanto o Brasil trouxe um subúrbio fictício da Zona Norte do Rio de Janeiro. Cada uma ao seu estilo cativou, mas porque representou o público a quem estava se dirigindo. Ringer apelou para o dramalhão, para o "cenão de novela", enfim, para os ingredientes ímpares de UMA NOVELA MEXICANA, mas não assumiu seu real papel de SÉRIE NORTE-AMERICANA. Ringer foi além, copiou e isso fez mal ao ego estadunidense, que está acostumado a criar formatos de programa, não adaptá-los. Sentimos muito pelos amigos norte-americanos, porque como diria o daddy da química moderna, Lavoisier: "na natureza na perde, na se cria, tudo se transforma". Se eles não sabem lidar com uma "transformação" de uma novela em uma série, nós só lamentamos, pois perderam uma história irresistivelmente cativante.