Toda forma de amor a “Sangue Bom”





“E fecham-se as cortinas”. Mesmo sem muito barulho que pudesse vir a reverberar na imprensa ou até mesmo nas redes sociais, Sangue Bom, a novela das sete que chega ao seu final esta noite, fez bonito.
A dupla de autores, Maria Adelaide Amaral e Vincent Vilari usaram e abusaram da crítica ao universo das (sub) celebridades em meio às tentativas desenfreadas de certos tipos estarem sempre na mídia, com uma dose certa de bom humor e sarcasmo. A audiência da novela pode estar aquém do esperado pela emissora, mas há que se notar que Sangue Bom divertiu e emocionou muitos marmanjões por aí! (Eu que o diga rs.)
A novela apareceu na mídia com um tom diferente, um pouco fora do comum em determinados detalhes se comparada às suas antecessoras. A trama veio com uma pegada jovem, que vai do elenco até a trilha sonora. Não trouxe um casal protagonista convencional, abordou na verdade seis protagonistas que brilharam (e alguns patinaram) ao longo destes meses em que esteve no ar: Bento (Marco Pigossi), Amora (Sophie Charlotte), Malu (Fernanda Vasconcellos), Maurício (Jayme Matarazzo), Giane (Isabelle Drummond) e Fabinho (Humberto Carrão).O poema “Quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade, em que ele mostrava o famoso verso “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém” lembra muito o enredo principal da novela, afinal, ao longo da novela o troca-troca de casais foi constante e isso, talvez, apesar de incomum em se tratando de uma dramaturgia tradicional, pode ter sido um dos pontos que tornou a novela confusa e afastou um pouco o público.
A resposta para isso pode estar na protagonista/vilã Amora Campana (Sophie Charlotte). Ela com sua dúbia personalidade infernizou a vida de muita gente e, como conseqüência imediata, foi reprovada por boa parte do público da trama.
Dentre os acertos, estão algumas tramas paralelas: muita gente amou o drama vivido pelo Filipinho, interpretado por Josafá Filho. O personagem era carregado de carisma, e que, ao invés de um melodrama pesado por conta dele ser um homossexual e ainda por cima estar na mídia, os autores conseguiram deixar as cenas leves, mesmo as situações de bullying sofridos pelo rapaz. Filipinho agora volta ao Brasil depois de uma temporada fora do país e a novela leva a crer que terá, enfim, uma relação com Xande (Felipe Lima). Núcleo ótimo por sinal.
Dentro deste núcleo ainda encontra-se a dupla de atores Malu Mader e Felipe Camargo, que, se reencontrando após serem o casal protagonista na minissérie Anos Dourados (Gilberto Braga, 1986), dão o ar da graça em uma nova história de amor. Rosemere e Perácio foram maravilhosos! Mesmo não tendo tanto destaque quanto os protagonistas, em inúmeros momentos ver os personagens foi agradável e soou até com Déja Vu! Ponto positivo para a novela.
Por ser das sete, é óbvio que não faltou comédia, e o elenco para isto foi ótimo, a começar por Ingrid Guimarães com sua Tina. No início com uma sátira à Avenida Brasil (João Emanuel Carneiro, 2012) a personagem queria se vingar da patroa Bárbara Ellen (Giulia Gam) e rendeu bons momentos para a novela. Seus diálogos sempre com sacadas ótimas, a transformou em uma querida do público. O seriado em que a personagem participa, o “Família Calabresa” tornou a história singular. Destaque para a personagem Karmita Lancaster (Carmem Verônica) que estava sempre pronta a ajudar. Destaque para Ellen Roche e sua deliciosa Mulher Mangaba que, junto com as outras mulheres fruta deu um show, outro destaque foi a  Mulher Pau-de-Jacu que arrancou muitas risadas do público E o melhor nível cômico da trama ficou a cargo de Marisa Orth (divinamente ótima) e Joaquim Lopes. Nos últimos tempos, os dois, que vivem Damáris e Lucindo arrancaram risadas dos telespectadores por conta de um alter ego da personagem de Marisa Orth, que encarna Gládis, um tipo lascivo e sensual que encanta Lucindo. História deliciosa de se ver, sem ter aquela pegada “pastelão” que às vezes soa como normal.

Neste rol de acertos, para resumir, Giulia Gam com sua insuportavelmente adorável Bárbara Ellen é a cara de “Sangue Bom”. Ë impossível falar desta novela e não lembrar das vilanias e da decadência da personagem no mundo das celebridades. Suas tentativas de se manter na mídia fez dela um das melhores personagens da trama das sete. Ruim até o último fio de cabelo, mas que nestes últimos dias de novela se revela uma mulher frágil e carente. Assim sendo, podemos dizer que as tramas paralelas da obra se sobressaíram à principal. Seria aí outra explicação para a pouca repercussão?
Mistério é bom, e a gente gosta! Na reta final, os autores lançam mão de um mistério. Não, não é um “quem matou”, e sim “quem cometeu os crimes?”. A dúvida que pairou no ar é quem é o sabotador que vinha colocando a culpa em Amora de inúmeros delitos cometidos. Inimigos, a personagem tinha de sobra, Socorro (Tatiana Alvim) que idolatrava a it girl Amora, é a única que sabe quem é o sabotador, e o auxilia em certos crimes, forjando provas para todos virarem a cara para a “pobre” da Amora Campana. A resposta nos foi dada no último capítulo, sendo revelado que Tito (Rômulo Arantes Neto), por amor a Lara (Maria Helena Chira) resolveu sabotar Amora.
Malu decidiu ficar com seu primeiro e grande amor Maurício, Bento e Amora terminam a novela como uma incógnita, ela regenerada, dando aulas de inglês e cuidando dos sobrinhos...
Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari deixam um legado de que criticas ao mundo real podem ser feitas sem ter em si uma trama chata. Será que Além do Horizonte vais superá-la em termos de qualidade e, por que não, audiência? O tempo dirá.