Muito além de "Roda de Fogo"


O que rolou nos bastidores dessa novela do babado? Você confere aqui. Mas como ontem eu deixei a desejar e não coloquei a abertura, aqui vai a entrada da novela. A vinheta contava com a voz de Marina Lima e sua canção "Pra Começar". Entre os trechos que retratavam bem a novela, esse tem destaque:
Pátrias, famílias, religiões e preconceitos. Quebrou não tem mais jeito. Agora descubra de verdade. O que você ama... Que tudo pode ser seu
Pois é, quem iria remendar tamanhas falcatruas que se passavam no entorno da novela? Só mesmo o próprio protagonista da novela, o antagônico Renato Villar, que ao descobrir a tal "verdade" do que ele amava, como diz a canção, se viu liberto de tantas artimanhas e armações irregulares; encontrando o amor nos braços de Lúcia Brandão.  No visual, eles mostravam elementos que atravessam similares de rodas de fogo e se transformam, fazendo uma alusão à vida do protagonista da trama. Confira a chamada de estreia e a abertura original:





Apesar de vangloriarem Félix (Mateus Solano) da atual Amor à Vida, tido por muitos como primeiro vilão gay da teledramaturgia, quem deu vida ao primeiro maquiavélico de sexualidade duvidosa (ou bem esclarecida, vai entender) foi Cecil Thiré com seu advogado corrupto, Mário. Pois é, o ator inclusive afirma em entrevista a IstoÉ Gente, que chegou inclusive a ser tido como gay na vida real, chegando a perder papeis de campanhas publicitárias por conta de tal rótulo, na época, muito pouco difundido e aceito. Porém, este é considerado até hoje um de seus melhores personagens na TV.  
O nome Roda de Fogo, já havia sido usado em outra trama da extinta Tupi, em 1978. A novela, exibida pela Globo tinha a assinatura de Lauro César Muniz, porém, sua sinopse foi desenvolvida na Casa de Criação Janete Clair, no Rio de Janeiro. A novela tinha todos os elementos necessários para fazer o grande público se ver cativado pela história, e mesmo com todo seu maniqueísmo aflorado, com vilões que não mediam esforços na maldade e mocinhas que faziam o bem acima de tudo, a novela conquistou multidões. 
Quanto ao cenário nacional no período de transmissão da novela, o país acabava de sair de um regime militar longo e com isso estava cheio de desajustes e resquícios do período negro de ditadura. Lauro César Muniz não deixou barato e retratou em sua trama a figura do ex militar, mostrando que mesmo diante das mudanças, ele era prepotente, arrogante e visava de alguma maneira dominar a situação. A figura escolhida era o general Hélio D'Ávila, tio de Carolina, esposa do protagonista da trama.
Diferente dos autores da atualidade, Lauro procurou focar no que ele tinha planejado para seu mocinho-vilão. Apesar de se regenerar, Renato acaba morrendo no final da história. Isso gerou certos rancores em alguns telespectadores, mas no final deu tudo certo. E nem mesmo a suposta "bondade" de Renato o fez se tornar uma pessoa livre de pecados e digno de um "milagre". Se compararmos com tramas atuais, vemos esse embate do autor tentando humanizar os vilões. Sangue Bom e Amor à Vida são grandes exemplos, já que Amora Campana (Sophie Charlotte) e Félix saíram das respectivas obras praticamente ilesos, se analisarmos bem o quesito de maldade de cada um - não venham me falar que a pessoa pagou por seus crimes vendendo cachorro quente e morando com uma ex-chacrete, porque num paga nem metade da maldade de jogar um bebê numa caçamba, tentar matar um dos funcionários e a própria sobrinha pela segunda vez, e forjar exames de DNA. 
Outro marco dessa trama foi o de atrair o público masculino, por ser uma novela "masculina", como as outras de Lauro César Muniz. Ele trouxe um homem de protagonista, mesmo que mau caráter, tinha essa função de atrair homens que ora se identificavam, ora tentava fugir dessa figura dúbia de Renato Villar. Tanto que a emissora optou por reprisar no turno da tarde, a novela, durante as transmissões da Copa do Mundo de 1990. O intuito? Deixar os homens mais tempo atrelados à TV. A audiência não foi das piores, mas a reprise foi uma das mais curtas, com apenas dois meses de exibição.
E como toda novela que se preze, teve o barraco básico entre ator e produção. A vítima/culpada da vez foi Lúcia Veríssimo, que era a irmã da mocinha da trama. Ela se desentendeu nos bastidores e foi vetada da novela, saindo logo no início e jamais retornando. A justificativa foi que Laís, sua personagem, foi viajar para o exterior, mandando apenas um postal nos últimos capítulos da história. 

Trilha Sonora Nacional: O disco nacional contou com grandes nomes e uma trilha muito eclética. Ia da MPB ao popular, passando pelo rock nacional. Começava com a versão nacional de "Too Young", em sua versão mais conhecida na voz de Nat King Cole; aqui a versão dessa trama era assinada por Simone, mas a música fez parte de outras trilhas como da minissérie Um Só Coração (2004); a canção ocupou o posto de 85ª mais tocada naquele ano. Outro sucesso do disco foi a canção "Você" na voz de Os Paralamas do Sucesso, que foi tema da curta personagem Laís, 56ª mais tocada. E o escolhido para ser tema dos "pombinhos" da trama, foi o cantor inglês Ritchie; "Transas" ficou em 23º lugar dentre as 100 mais tocadas no país em 1986. Outro sucesso que figurou dentre as 25 mais tocadas foi "Nem um Toque" na voz de Rosana que ficou eternizada na trilha de Mandala, do ano seguinte de Roda de Fogo; pois é, mas antes de "O Amor e o Poder", ela já figurava e bem nas trilhas de novelas. E pra finalizar minhas escolhidas, tem Capital Inicial, que já esteve aqui no blog e que foi tema geral na trama,  marcando o início do grupo em trilhas sonoras, com a canção "Música Urbana".
  1. Em Flor (Too Young) - Simone - (Tema de Maura)
  2. Você - Os Paralamas do Sucesso (tema de Laís)
  3. Tema de Ana Maria - Clock
  4. Você Se Esconde - Rádio Táxi (tema de Pedro)
  5. Viver é Deixar Rolar o Sentimento - Wando (tema de Júnior e Vera)
  6. Pra Começar - Marina Lima - (tema de abertura)
  7. Transas - Ritchie (tema de Renato e Lúcia)
  8. Alguém - Kiko Zambianchi (tema de Tabaco)
  9. Facho de Esperança - Mestre Marçal (tema de Gilson e Joana)
  10. Segredo - Djavan (tema de Telma)
  11. Nem Um Toque - Rosana (tema de Helena)
  12. Música Urbana - Capital Inicial (tema geral)
Trilha Internacional: O disco internacional não teve tanto impacto quanto o nacional. Trouxe sucessos mais discretos, sem tanto balbúrdia, quanto o primeiro disco. O tema dos protagonistas ficou a cargo de Mike Francis. Outro sucesso foi a música de Simply Red, que sempre emplaca sucessos em trilhas, "Holding back the years", lembrada por muitos até hoje e 27ª no ranking de 1986. E por não falar de "Why Worry", música que ganhou uma versão na novela A Viagem (1994) e que tinha sua primeira apresentação em Roda de Fogo, na voz de Dire Straits, e que foi tema do casal Ana e Pedro, 42ª mais tocada. Agora, se meu gosto conta, eu resolvi colocar uma das que eu mais gosto da trilha, de Peter Gabriel, "Sledgehammer", que foi a 54ª mais tocada . Confira a seguir, todas as faixas que compunha a trilha e a capa original.
 
  1. Sweet Freedom - Michael McDonald
  2. With You All The Way - New Edition
  3. Invisible Touch - Genesis
  4. Colors On My Blues - Reno Scott (tema de Carolina)
  5. New York, Rio, Tokyo - Trio Rio
  6. You Can't Get Out Of My Heart -Mike Francis (tema de Renato e Lúcia)
  7. Sledgehammer - Peter Gabriel
  8. Holding Back The Years - Simply Red
  9. The Finest - The S.O.S. Band
  10. Ancora Con Te (Outra Vez) - Peppino Di Capri - (Tema de Maura)
  11. Sahara Night - F.R. David
  12. Why Worry - Dire Straits (tema de Ana e Pedro)
  13. It Won't Be The Same Old Place - James Warren
  14. If Looks Could Kill - Heart
Fonte: IstoÉ Gente, Wikipédia, Teledramaturgia, Teledossiê, Memória Globo, Youtube, Dailymotion, Revista Amiga.