Félix: Muito além do estigma da "bicha má".


Em pauta: o vilão da novela das nove. Ganhando o estigma de "bicha má", Félix (Mateus Solano) agradou alguns e causou desgosto de outros tantos. A verdade é que por trás da máscara de homem frio e calculista, ele esconde um homem frágil, que não soube lidar com a eterna rejeição do pai. Mais do que isso, ele vê na irmã a causa de toda sua frustração. Félix oscila entre o cinismo aflorado e o ódio perturbador de um personagem que só quer ser perfeito, aos olhos da família.

Walcyr tentou esclarecer aos poucos o calvário pelo qual o vilão passou, na tentativa de justificar seus atos. E na minha opinião, conseguiu. Quando ele alega que Félix sofreu bullying na infância, ele tenta demonstrar que o diretor do hospital San Magno criou na verdade um escudo contra tudo e todos. As  piadinhas infames usadas pelo vilão, para agredir alguém, são nada mais, nada menos, do que uma tentativa de atacar antes de ser atacado. E se formos colocar tal fato em prática, na vida real, se encaixa perfeitamente. Os homossexuais fazem parte das minorias, sempre gerando olhares e desaprovação. Dessa maneira, o que Félix está expondo em pleno horário nobre é a maneira como muitos gays se manifestam no dia-a-dia, como uma forma de bloquear a falta de aceitação da sociedade para com eles. Tal fato culmina na pejorativa expressão "bicha má", que designa os gays que não têm papas na língua. A verdade é que deveria se criar então uma expressão para designar os héteros que também agem de tal maneira, porque essa atitude não é exclusiva de homossexuais, e sim da sociedade em geral.
Voltemos ao Félix.

O vilão das nove se mostrou humano, como já dito em outro post, diante da revelação diante da família sobre sua atual conjuntura sexual. Mais do que isso, Félix transpareceu a situação que muitos gays enfrentam no cotidiano: falar para a família. A família de Félix se portou de maneira utópica, pois raras são as vezes em que há total aceitação. Se César (Antônio Fagundes) foi rigoroso ao considerar a homossexualidade de Félix, os outros familiares foram mais do que solidários. Talvez, propositalmente, Walcyr tenha criado tamanha oposição de opiniões com o exclusivo objetivo de deixar claro que César representava a classe dos "não sou homofóbico, mas filho meu não pode ser gay". Mas a questão é que ele conseguiu mostrar que César arrumou um jeito bem maquiavélico de punir o filho por algo que não foi gerado por uma escolha dele, mas sim por ter nascido assim. Mesmo sabendo que não poderia curar a homossexualidade do filho - afinal, ele não é Feliciano -, César prefere ver a infelicidade do filho do que tê-lo se relacionando com outro rapaz. Até que ponto ser pai é agir de tal maneira?! A verdade é que através de tal situação, nos sensibilizamos com Félix e vimos nele a dor de ter uma vida da qual você não pode se orgulhar, pelo simples fato de que não é a vida que você escolheu, mas que lhe foi imposta.

Em suma, não estou aqui para livrar Félix de todas as suas maldades. Sei bem que nada justifica ele ter roubado o bebê da irmã e jogado em uma caçamba de lixo. Mas quanto aos comentários desnecessários e ofensivos, creio que ele os faça apenas como uma forma de não ser passivo (sem piadinhas, por favor) diante das pedras do dia-a-dia. E somente quem faz parte dos grupos de minorias pode compreender um pouco o que se passa na mente sofrida do vilão de Amor à Vida